Páginas ao vento

sábado, 30 de outubro de 2010

Símbolos, Símbolos!

Há um trecho de um poema de Fernando Pessoa que gosto muito:

Símbolos,
Símbolos,
Tudo são símbolos.
Serás tu
Um símbolo também?

Pois creio, estar ele (Pessoa) um tanto correto.
Dias atrás ao rezar para Nossa Senhora (sim, eu rezo cotidianamente!), pedi luz não só para mim, mas também para meus amigos de ambos os lados. E me aconteceu um estranhamento que me leva a pensar sobre esta questão do simbólico. Ao tentar amparar a queda de minha motocicleta (266Kg.), devido a uma escorregadela na oficina em que eu a levara para regulagem das válvulas, feri minha mão esquerda! Fiquei a pensar se isto estaria implicado no abandono de meu mal. Sinal de que eu poderia estar me tornando uma Pessoa melhor e pagando o custo por isso.
Ainda não resolvi sobre a possibilidade do ocorrido ser real a partir dos acontecimentos e de suas ligações com o simbólico.
Penso que, para que haja entendimento de uma comunicação é necessário que dominemos com amplitude o universo do simbólico que paira sobre nós, que o transformemos em palavras, em comunicação inteligível. Porém, para que isso ocorra, também o receptor há que dominar este universo e compreendê-lo. Ocorre que como a ausência da literatura e da informação escrita entre nossa juventude é exacerbada, está havendo uma deficiência no sentido da apreensão simbólica de nossas realidades. Está havendo uma transformação cultural drástica, onde a esperança de modificações profundas na sociedade ficará restrita à beira da praia, ou seja, estamos nadando, atualmente, em água rasa!
Como também nossa geração perdeu o antigo costume da oralidade, do contar histórias, a novíssima geração de humanos que aí está, não possui interesse ao acesso desse universo. Bem, diriam alguns, mas dominam a tecnologia! Ora, pois é exatamente isso: seremos técnicos em tudo! Há que se repensar a educação futura com uma base mais filosófica para que não percamos nossa humanidade, pois as humanidades e suas disciplinas, estão sendo as primeiras e grandes vítimas. Um amigo me dizia recentemente que, para ser um excelente profissional, em qualquer área, o diferencial que assim o tornaria era a inserção de: literatura, filosofia e história em sua vida.
Talvez o mal não nos abandone e não haja esperanças de melhores relacionamentos humanos, pois Pandora, ao abrir a caixa, ao contrário do mito, não deixou nada dentro dela.

Pandora, a mulher que, segundo a mitologia, fodeu com a humanidade.

Pandora Cassini, a pedra.

domingo, 24 de outubro de 2010

A Publicidade é Mulher!



A arte desaliena o mundo e a publicidade é tida, no senso comum, como “arte publicitária”, por lidar com imagens, com o fazer manual (em sua origem), com o desenho e a colagem, o que sugere a implosão da realidade última com o fato de a publicidade estar sendo encarada como o baluarte da necessidade do sentido e da inserção social para o ser humano.
Devido à publicidade se encontrar amplamente divulgada: o simples nomear das coisas, a criação das palavras, a necessidade constante que temos por novas imagens e conexões, acabamos por nos aconchegar em seu colo como realidade última de nossas próprias representações. Transformamos a longa trajetória do imaginário social, que vai transitar em imaginário cultural, como um novo paradigma, não somente estético, de rápidas paradas e partidas que não se fixam no coletivo: metrô suburbano, pois trafega em nosso subconsciente velozmente e com múltiplas estações. Faz a troca rapidamente: periferia/centro/periferia.
Sustentamos nosso cotidiano em imagens que nos dizem o que fazer, ilustradas a partir de um imaginário composto não apenas pelas ideias vendedoras do produtor de publicidade, ou do empresário que quer vender o produto/serviço, mas a partir de imagens com base em uma similaridade com fatos reais acontecidos a pessoas próximas e, muitos desses fatos, retirados das realidades pelas pesquisas de campo. Os anúncios são indicativos de acontecimentos socioculturais! A mulher, anteriormente, criada para o casamento, tendia a ficar sozinha em casa com os filhos e a se virar para a manutenção do lar, tornando-se agente de um cenário demarcado historicamente. Essa saída, da mulher, para a ação se dá com base no mercado de bens de consumo, onde ela é tomada como eixo primordial: cliente-representante-ícone-vendedor-mediador-definidor de compra.
A indústria, a partir dos anos 50, “re-descobriu” o mercado, ativando seus desígnios em termos de “novidades” tecnológicas para quem tinha tempo e dinheiro para usufruí-los e aprender a lidar com eles (com a nova tecnologia e com os novos códigos da vida em comum).
A imagem da mulher na publicidade de antigamente, como sendo “do lar”, adquiriu aceitação bastante positiva no mercado consumidor pelo fato de ter sido resguardada durante tanto tempo como valor doméstico, sendo-lhe agregado valor estético e ético. A mulher como símbolo portador de honra familiar calcado em antepassados. A mitologia indica a origem latina do que se denomina “Lares”: “[...] deuses da família, deificados dos mortais, eram as almas dos antepassados que velavam por seus descendentes”. A mulher, por ser geradora, dar passagem a gerações e permitir, assim, o caminho dos antepassados através do tempo no espaço doméstico ficou marcada, no senso comum, como sendo “do lar”. Uma representação retirada, de fato, de uma cena do drama vivido pelas mulheres, mas que ilustra sua utilização como imagem pela publicidade sendo “re-colocada” através da mídia, via anúncios publicitários e, ao mesmo tempo, sendo convidada, contraditoriamente à época de sua inserção na mídia, a se apresentar em atividades e atitudes extra-lares, elevando-se do sexo para a cabeça.
Close-up em Cinemascope: panorama expansivo de um novo modo ativo de viver e do “dito” pensar grande no mercado; abrir perspectivas; mais negócios; mais gente no consumo; assim, temos o público feminino como sendo maior do que o público masculino, tanto no Brasil, quanto no mundo, o que indica maior poder de consumo; maior movimento de caixa e, portanto, giro financeiro, a partir de um segmento antes menosprezado. Uma educação bastante pedagógica que os anúncios executam e, supostamente, predestinando maior qualidade de vida aos consumidores, pretensamento os inserindo como cidadãos.
Paradoxalmente a mulher é mantida presa ao ambiente doméstico no imaginário masculino, porém, como consumidora de produtos e de novas tecnologias na sociedade. É, ao mesmo tempo, “re-alçada” como ícone de fantasia externo ao lar, para o mercado: ela ilustra a venda de produtos e novas atitudes, o que não se enquadra como representação de fragilidade, mas que ilude quanto ao comportamento real dessas consumidoras junto à moral antiquada e machista que predomina em nossa sociedade. Ufa!!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Regalando-se no Recall

Vi num jornal, na televisão, que o consumidor de automóvel que não realizar o Recall do seu carro terá marcado no documento o fato. Em entrevistas, os motoristas achavam bom, porque assim evitariam comprar carros com problemas. Ué! Os carros já não são comprados com problemas sem o sabermos? O Recall não é um defeito de fábrica? Cadê o documento do carro vendido pela fábrica indicando que já vem com defeito? Há alguma sanção do governo à fábrica que produz automóveis defeituosos e os colocam à venda para um amplo público consumidor? As indústrias produtoras estão recebendo alguma multa sobre o fato?
Então, estão sendo normalizados os defeitos!
É normal comprar carro com problemas futuros! É isso o que o governo está nos dizendo.
Se a responsabilidade é apenas do consumidor, imaginem o que virá a seguir; Recall para os seguintes produtos:
1- Fogões que só assam de um lado;
2- Liquidificadores de 3 velocidades que só vêm com 2;
3- Livros faltando uma página;
4- Geladeiras que estragam alimentos;
5- Cerâmicas com peças desproporcionais;
6- Jornais com apenas metade das notícias;
7- Pedreiros que fazem a parede torta;
8- Encanadores que deixam a pia vazando, ou a descarga;
9- Energia elétrica sem estabilidade, ou bem abaixo da voltagem exigida;
10- Telefones que cobram 50 segundos o minuto;
11- Seres humanos nascendo com metade do cérebro. Ôpa!, estes não precisam de Recall, pois são os consumidores ideais.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Devorador dos Devorados

Parafraseando Luiz Carlos Maciel:
(sei que essa geração sequer sabe quem é esse cara, portanto, teclem no google!)

Devorada pelo tempo, nossa cidade natal aparentemente perdura no espaço de nossa memória nos iludindo. Chegamos a pensar que a vendo novamente, revisitando-a, nos seria capaz de levar, de algum modo mágico, ao passado. Mas isso é um engano. O passado não está em lugar algum: é uma ilusão, que toma formas variadas e imprevistas. O passado é só o que falamos dele. “Talvez seja este o verdadeiro sentido da necessidade que um homem experimenta em voltar à sua terra natal. Ele vai lá, não para encontrá-la, mas para não a encontrar.” Podemos aprender com isso, afinal, vivemos para aprender com o bem, ou com o mal.
Somos todos “ex-pátrios” e nos iludimos com nosso enraizamento espacial, quando, na verdade, nossa sanidade se encontra no enraizamento das histórias familiares, que vêm nos dar o sentido de existir.

domingo, 17 de outubro de 2010

Em Busca de Uma Sociedade Mais Justa.

Utopia!
Uma sociedade mais justa não existirá nunca. Pois a noção de justeza - qualidade do que é justo, exato, preciso, certo - (diferente de justiça), social não se adequa à mentalidade atual que tem como nexo o mercado, o consumo, como inseridor da pessoa no contexto de cidadania e de sujeito.
Esse nexo pressupõe competitividade, na dualidade, com foco no individuo contra o outro. Uma música que encontramos no CD “Tudo foi feito pelo sol” dos Mutantes (sem Rita Lee), diz assim: “estão dizendo que é pra competir, mas eu só penso em te abraçar, não há nada na vida que me faça parar de amar! Estão dizendo que é pra eu te passar pra trás, mas eu só penso em te ajudar, não há nada na vida que valha eu parar de te amar”, vem mostrar o último bastião do romantismo, de uma juventude que ainda tentava a ideia da harmonia no coletivo. Portanto, a crença na possibilidade de uma sociedade mais justa.
Mas, no budismo, há uma pergunta para o neófito sobre como ele acha que é o mundo: sofrimento, é a resposta. A maneira de transformar-se em uma pessoa melhor e, consequentemente, transformar a sociedade por irradiação das atitudes, se dá pelo sofrimento. Transformar o sofrimento em luz!
Diz-se que só assim podemos calcar em nosso espírito as transformações para melhor em nós mesmos, mas, em uma sociedade sofredora como a nossa e uma sociedade composta de pessoas desinformadas sobre possibilidades de transformação, já que transformar para melhor implica ter coisas materiais para se sentir feliz, o sofrimento é tido como um incômodo que deve ser eliminado.
Assim, perde-se a oportunidade do aprendizado, já que negamos todas situações que nos incomodam e o consumo, nos traz alegrias efêmeras, fugazes, de um círculo vicioso atroz. Não vou repetir-me aqui no blá-blá-blá sobre sociedade de consumo, consumidores cidadãos, etc, etc. Apenas vou fazer notar que por estarmos desinformados sobre como nos transformarmos para melhor e por não termos atenção em nossos sofrimentos cotidianos, estamos perdendo a noção do melhoramento e continuamos caindo nos mesmos problemas que nos levam a novos sofrimentos.
É um círculo vicioso necessário para a manutenção do Status Quo. O filme: “what's so bad about feeling good?”, de 1968 (não me lembro do diretor), expõe este círculo vicioso das más necessidades institucionais – hospícios, hospitais, polícia, políticos – ao nos mostrar um vírus transmitido por um pássaro em uma grande cidade americana que, ao contaminar toda a população, a torna amável. Os casamentos proliferam, os divórcios diminuem, a agressividade se esvai, as pessoas deixam de consumir álcool e drogas e a comunidade se torna pacífica. Há a luta das autoridades na tentativa de evitar que a epidemia se alastre levando a sociedade (comercial) à ruína. Pois há uma dependência entre o funcionamento institucional atual e os horrores a que seus cidadãos são obrigados e acostumados a viver cotidianamente. É uma interdependência, ou seja, uma doença necessária da qual a sociedade vigente necessita de seus piores aspectos para funcionar da maneira que conhecemos.
Me parece, através de um distanciamento antropológico, que isso é real. Não há nada anunciando possibilidades de mudanças estruturais, ou mesmo de reforma das piores situações vigentes na atualidade nacional. A única saída que vejo, é pela via da educação, mas, os governos demitem, ou forçam a se demitir, pessoas empenhadas minimamente na realização destas mudanças/reformas. Cito dois casos: Cristóvão Buarque na educação e Marina Silva no meio-ambiente.
Para não politizar a conversa, digo que como somos anestesiados pela necessidade da massa, e isso implica questões quantitativas em detrimento das qualitativas, jamais observaremos as possibilidades que os atuais sofrimentos a que somos imersos se tornem potências alteradoras de quaisquer situações. Ou, em palavras mais simples, não há saída! Estamos imersos na barbárie!

Aprendendo a Ser Pai.

Este texto é de uma entrevista à revista "Estação" para o dia dos pais em 2007 e que coloco, na íntegra, à tona novamente. 

Profissão: Publicitário.
Pai de quantos filhos: um.
Idade dos filhos: vinte e um.
Nome dos filhos: Pedro.
São do primeiro casamento? Primeiro e único. São 25 anos de casamento, na verdade não nos casamos oficialmente. Vivemos juntos desde 1982, quando nos conhecemos na Unicamp.
Caso seu filho more longe, explica pra mim como é a relação de você com ele: Eu sofri muito quando o Peu saiu de casa, porque sou muito ligado nele e nos meninos todos que convivem em casa. Sempre levei no Karatê, no clube, nos lugares, na escola. Levava e ia buscar também, não importava a hora. Então, o cordão umbilical que foi cortado foi comigo. Ele não liga muito pra casa, somos nós que temos que ligar pra saber como vão as coisas, pra saber se ele tá precisando de algo. Mas ele é sossegado e tem ido muito bem na faculdade.
Como era a sua ideia de ser pai antes e como é agora? Eu nunca imaginei ser pai antes de o Pedro nascer. Não fazia idéia de nada. O primeiro banho que fui dar nele, eu coloquei uma sunga e ia entrar na ducha quando minha sogra falou:”_ Imagine!! O que é isso!! Quer matar o menino?!?”
Marinheiro de primeira viagem total. Depois você vai observando o ser se formando, te olhando e o amor vai se desenvolvendo, começa a aparecer nos sonhos e a compor sua vida.
Quando você descobriu que seria pai pela primeira vez, quais foram as maiores alegrias, o maior desespero, a maior preocupação? Nós já vivíamos juntos há 4 anos e já havíamos experimentado bastante situações da normalidade às mais estranhas que a juventude pode nos possibilitar. Então, a gravidez, parece, foi um sinal de mudança no sentido de nossas vidas e nós vimos isso claramente, mesmo porque já estávamos com 29 e 27 anos de idade. Não vou dizer que houve um sinal de alegria enorme pela gravidez, porque você nunca sabe o que é exatamente isso, o que vai vir, ou o que pode acontecer. Então, esse sintoma de alegria e desespero, que eu não encaro assim tão drasticamente, me parece, caminham juntos , como uma gangorra. Uma hora você está com os pés no chão e o real passa como um filme por você e você é ator nesse filme, outra hora, você vê o diretor dando ordens e não pode fazer nada, porque está só observando fora do espaço cênico. A preocupação grande foi cair dentro do mundo verdadeiro, que era o mundo fora da universidade, o mundo real, dos conflitos e do trabalho. O mundo que eu não vivia e que precisava acessar para começar a ganhar dinheiro e sustentar minha família. Mas era apenas uma preocupação, não um desespero, algo que se resolveu calçando-se os sapatos.
Você acha que conseguiria ser pai sozinho? Olha, eu falo que sou pai de um filho só, mas aí a Leila me lembra que eu ajudei a criar mais 6 garotos(as), filhos de amigos, que cresceram junto com o Peu. Criar no sentido de ajudar a inserir formação de vida e orientação para uma ética existencial, para que pudessem ser seres humanos bacanas, sem preconceitos. Mas não poderia ter sido pai sem a ajuda de minha companheira. E hoje em dia, não, não sei não. Vai depender de como a vida vai te colocar nessa situação, né?
Você se classificaria como que tipo de pai? Justo, brincalhão, que dá limites e que sabe os seus limites em relação aos espaços do filho também.
Para nós conhecermos um pouco de sua personalidade, gostaria de saber como seria um dia dos pais perfeito com a sua família, um lugar, uma situação: Então vamos lá: primeiro que eu não acredito em dias dos pais. Acho bobagem esse negócio de dia dos pais, dia das mães, dos namorados,, das crianças, etc... São datas comerciais, feitas com o intuito de se incentivar e de se objetivar vendas. Ou seja, são datas mercadorias. Eu tenho dias maravilhosos com o que eu chamo de tripé do amor, que é meu filho e minha mulher juntos comigo, deitados na nossa cama de casal, no quarto, com a janela aberta que dá de frente para as Murtas floridas e perfumadas no jardim. As janelas são enormes e ficamos os 3 ali fazendo cafuné, conversando, sem tempo nem necessidades. Ali falamos de tudo, mas é um espaço de intimidade dividida desde sempre e isso é lindo! Esse é um dia qualquer perfeito.
No caso, você é um publicitário, um artista, me conte um pouco do seu trabalho. E das suas atividades fora dele. Como é a relação da sua família com as suas atividades? Seu filho está no mesmo caminho? Sua mulher...: Hum...! Há muito respeito pelo espaço de cada um em casa. Tenho o atelier de pintura e o estúdio de criação em lugares diferentes da casa e quando estou trabalhando num deles, ninguém vai lá. Leila também tem o escritório dela, com a biblioteca, os livros ao lado do meu estúdio. Peu foi criado assim, com a gente sempre enfiado ou nos livros, ou nas tintas e na produção criativa. Mas nunca podei qualquer atitude ou vontade dele se integrar nessas atividades, o fato é que ele observou demais, eu acho, e escolheu um caminho diferente do nosso. Meu trabalho antigamente pedia mais contatos sociais, mais baladas e muitas saídas. Eu passava muito tempo cuidando de relacionamentos e do trabalho e pouco tempo em casa. Aí eu dei um breque nisso tudo, olhei a balança e optei pela qualidade em minha vida e não pela quantidade de trabalho que resultasse em mais dinheiro, que me possibilitasse fazer o que? Minhas duas estrelas estavam em casa e foi ali que eu resolvi ficar. Então terminei o mestrado e optei por dar aulas numa universidade, selecionar algumas consultorias em comunicação publicitária, que é o que tenho feito.
Peu estuda administração na Universidade Federal de Santa Catarina e pretende, se é que não vai mudar, fazer MBA na área de hotelaria.
Para você, pai, qual é a maior dificuldade para educar um filho? Olha, acho que os pais, hoje em dia, pecam pela falta de conversar com seus filhos cotidianamente. Não é chegar pro filho e falar: “_ senta aí e vamos conversar!”. É ser ao mesmo tempo pai e companheiro. Pai não é amigo, é pai mesmo, mas pode ser companheiro e deve falar, com carinho, sem imposição, sem podar o ser que está se formando, deve falar sobre tudo com grande disponibilidade e sem hipocrisia. Eu sei de histórias de pais que tratam seus filhos de uma maneira horrorosa, porque os meninos se descobriram homossexuais. Isso é um absurdo! O que o lance da sexualidade tem a ver com o amor dos pais? Então não havia amor antes? Os filhos nos ensinam a viver!
Diga pra gente, uma frase, um ensinamento, algo que você sempre diz ao seu filho, um conselho… ? Faça e seja feliz!
Como era o seu relacionamento com seu pai, como é hoje com seu filho? Putz, dá-lhe terapia!! Eu considero que não tive pai, porque a presença dele durante o tempo em que viveu, foi de um alcoólatra que chegava em casa sujo, com as roupas rasgadas e manchadas de sangue. Não tenho imagem de carinho dele para comigo, mas tenho muitas lembranças de violência e de gritaria. Eu acho o álcool uma merda. Acho que as campanhas publicitárias de bebidas alcoólicas deveriam ser mais regulamentadas, senão, banidas. O público não tem consciência do mal que o álcool faz, das mortes que causa e da ponte que ele é para outras drogas. De quantas famílias ele destrói. Eu tive problemas com álcool até 1993, quando parei radicalmente com tudo. Parei porque olhei para meu filho e na minha lembrança vi que poderia fazer diferente. Fiz diferente. Mudei a face do espelho, contei tudo para o Pedro, ele sempre soube de tudo, temos uma relação muito transparente em casa. E eu fico em cima quando o negócio é bebida alcoólica. Fico apavorado. Mas a gente se ama e nossa história é outra, graças a Deus.
Você precisou largar alguma atividade na vida de recém-casado ou até mesmo da vida de solteiro para embarcar na paternidade? Nunca. Eu já havia terminado a faculdade, Leila também, ela estava fazendo o mestrado na Unicamp e já havia cumprido os créditos. Eu trabalhava numa agência de publicidade em São Paulo, então, na verdade, minha paternidade começou aos 3 anos do meu filho, quando embarquei mesmo, numa maior proximidade de núcleo familiar, ao sair da agência em que trabalhava e me mudar para Londrina, que era onde eles já estavam morando. Acho que fui um pouco egoísta nessa época, mas foi necessário para que pudéssemos realizar outras coisas materiais.
Para finalizar, o que significa dia dos pais para você? Em termos comerciais e sentimentais: Bom, eu disse que é um “commerce day”, não é mesmo? Nós temos calendário pra tudo, que poderia ser melhor utilizado, no sentido de mercado. Pois temos sempre um dia marcado como sendo comemorativo para qualquer coisa que se queira imaginar. Deputados são os responsáveis por isso, sabia? Dia da avó, da sogra, dia do sapateiro, da manicure, do otorrino, dia do digitador e por aí vai. Isso é reflexo da fragmentação de nosso tempo, da nossa vida cotidiana que deixou de ser elástica. Nunca o relógio esteve tão acertado, no sentido de hora pra tudo. Os intervalos entre os ponteiros se encontram todos ocupados e têm etiquetas com preços e logotipos. Por isso eu acho qualquer dia comemorativo tão vazio de sentido. Porque a comemoração está focada no produto, e não, no institucional. Precisamos fazer um trabalho de “re-posicionamento” estratégico para as datas comemorativas principais, para que tenham mais sentido humano.
Obrigada: OK!

sábado, 16 de outubro de 2010

O Corpo Como Muro.

Muitas são as explicações encontradas para o fato de uma pessoa inscrever na própria pele imagens, nomes e sinais que permanecerão permanentemente em sua companhia. Mesmo tendo que conviver não apenas com essas assinaturas, mas com o olhar do outro sobre si durante seu caminhar pelo mundo e, consequentemente, pelo mercado conservador em que vivemos.
Nossa sociedade atual carrega a contradição entre a normalização do tráfego de imagens corporais que contagia não somente aos jovens e a negação em expô-los à mostra em serviços onde há contato público e àqueles da saúde.
Nossas tatuagens são feitas sob encomenda para ficarem cobertas pelas roupas, são mostradas em pequenos deslizes, flagrantes íntimos, porém ainda nos incomodam e fascinam. Podem nos indicar que somos prisioneiros da marginalidade em voga, menos sombrios em seus motivos pictórios do que nos tempos mais antigos em que surgiu entre os povos mais urbanizados.
Tenho a sensação de que a Tatoo acabou fazendo parte da ampliação de uma vontade estética que culmina nas deformações plásticas sobre o corpo humano em que o jogo do mostra/esconde não se faz mais necessário como afirmação de valores grupais, ou de ritos de passagem.
O que era escondido e mal revelado, se faz bonito.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Um poema Bashô no meu quintal!

Carlos Vinicius Ferreira Sato
que é meu amigo escreveu:

Corredor de Vento

brisa barulhenta
o olhar da alfazema
apenas São Paulo
da minha sacada...


O poeminha (sem pretensão, porque há poetas que sabem florir), abaixo, escrevi para o Peu no aniversário de 20 anos dele, em 2006, sentado debaixo do Ipê que tem no meu quintal.

Depois da chuva
Muita secura.
Galho florido
Muita brandura.
Flores num pau seco.

A arte é uma inutilidade glamourosa!

João do Rio teceu este comentário no começo do século XX. É ácido e visa metralhar artistas de carteirinha, aqueles que se reúnem em associações, etc, etc. Tem gente que fala que isso é frustração. Pode ser, para alguns, mas pode ser falta de saco para outros. Como diz o Evaldir Loyolla: "sabêláeu!"
Muita gente vai ler o nome desse meu amigo, o Evaldir, e não vai saber quem é. Assim, como outro dia, num almoço com amigos, citei o nome do Mario Arrabal e ele caiu no vazio. Olhares insensíveis, ou melhor, desinformados, sobre este excelente gravador brasileiro que atualmente está vivendo em Itacaré, na Bahia. Evaldir optou por viver em Londres há anos, já!
Há muitos outros artistas que sequer beiram o prato do mercado. Ficam girando na pequena imortalidade, ao redor das intimidades. Eu penso que como tudo é relacionamento, quem não tem estomago para esse tipo de atitude/atividade, senta no porto, enchendo a cara e colocando suas lindas angústias no papel, ou na tela, porém sem jogar sobre elas a luz do sol.
Enquanto isso, na Bienal, artistas querem ser diretores de cinema. No saguão podemos encontrar textos explicativos sobre as obras. É isso, temos que ter textos explicando tudo. Pena que as pessoas não saibam ler!
Para isso, cito Fernando Pessoa de cabeça: [...] e há poetas que constroem seus versos tijolo por tijolo [...] que triste é não saber florir.

Acima, gravura de Mario Arrabal/1998 - 39X32cm.