Páginas ao vento

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Papai Noel inadimplente, … não interessa! Eu quero meu presente!

As Graças


A Nádia comentou que seria bom se nevasse no natal, sob calor de 33º ia combinar com o espírito natalino, ou torná-lo pequenino. Tudo no frio fica pequenino! Na falta da neve, pintei minha casa, por dentro, de branco sereno. Tudo quase pronto para o Natal!
No supermercado vi o preço do pernil defumado: inviável! O perú a 10 reais o quilo, parece barato, mas a peça vai a 42 paus: inviável! Fiquei muito comedido neste ano paradão, imagine que vou gastar 50 paus numa coisa dura e congelada, fora a quantidade de água que, saiu no jornal, a indústria têm injetado nas aves.
Com esse calor de arrasar e a chuva borrasqueira, até pé de alface tá uma fortuna! Mas esta não é uma coluna econômica. Então, o que estou falando aqui é de pura observação dos fatos. Violência e consumo, já antenados pela Alba Zaluar há mais de uma década, dão o tom deste final de ano.
Peço ao Papai Noel que traga um saco enorme, cheio de Coerências: musas gregas filhas de Tétis e Oceano. Gostaria que outras musas debandassem geral, tais como Ironia, Angústia, Desespero e Crueldade, apenas para citar algumas. Gostaria que Justiça e Harmonia se fizessem presentes pra alegrar nossas vidas.
Estou fazendo meus presentes de Natal, para algumas pessoas especiais que encontrarei na ceia. Coisas inúteis do ponto de vista de utilizá-las para algum serviço ou divertimento. Coisas de se olhar, … de se cheirar, ... de ficarem expostas, como que observando o tempo passando por sobre nossos ombros. Coisas fora do tempo e do mercado. Coisas de valor pessoal e íntimo. Algumas, apenas um bilhete, outras, um beijo que fique na memória, como o beijo de Maria do Carmo quando eu tinha 8 anos de idade. Um simples beijo na testa que trago fresco, ainda, após 45 anos. Isso é que é presente!
Alegria de viver a todos vocês e até o ano que vem.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Poesia Companhia

Um mestre, que sabia das coisas. Esta poesia de Fernando Pessoa está num livro dele, de capa dura vermelha, que me acompanha sempre. Aqui, revelo pra vocês o que me anima a dar sentido pra vida, entre tanta demonstração de crueldade que encontramos no mundo.


O mistério das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.

Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.

Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: _
As cousas não têm significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Convicções!




Emil Cioran já dizia: A convicção mata o homem.
Pois é a partir delas que acabamos por gerar a invisibilidade do outro. Uma pessoa cerrada em suas convicções não possui ouvidos, nem olhos, apenas a boca e suas palavras duras. Como os dogmas das religiões com seus deuses únicos. Por convicção se fez as guerras santas, de ambos os lados. Se fez também as guerras modernas, transmitidas pela TV e celulares. Creio que a convicção está amparada na crença de uma verdade única, utilizada para domínio e poder sobre os outros, mas posso mudar de opinião.
O homem é plástico e moldável. Hoje, não creio mais em muitas coisas em que acreditava na juventude, mudamos com a experiência e melhoramos com isso. Convicção é como fé cega, sem o conhecimento nos leva ao fanatismo.
Não podemos negar a experiência vivida por outros, devemos ouvir e argumentar, sair da possibilidade de uma feira de cumes que torna toda crítica um fato pessoal.
Fora com a convicção, bem vinda a interlocução!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Tempo Livre S/A

Na falta do que fazer:
Clique na imagem para ampliar.


Criaturas e Criadores



Tenho acompanhado as informações na imprensa sobre as agressões de adolescentes paulistanos e também o que ocorre, de outras maneiras, no interior do estado. Procurarei montar um mapa dessas condições que, ao que me parece, se produzem a partir de relações familiares e administrativas da educação.
Procurando entendê-las, recuo um pouco na arqueologia dessas relações, ou seja, no relacionamento dos avós com os pais dos agressores. Creio que estes avós seriam mais conservadores, como meus avós o foram com meus pais e estes com seus filhos: meus irmãos e eu.
Venho de uma família do interior de São Paulo, porém não menos tradicional e que se “tornou” paulistana ao optar por fixar residência na capital. Meu pai foi criado em sobrado numa vila da alameda Lorena e posteriormente na, antigamente chique, Haddock Lobo com Fernando de Albuquerque. Eram burgueses dos anos 50 e 60 e assim foi a tentativa de transmitirem estes valores à prole.
Não funcionou, apesar de, em casa, chamarmos pai e mãe de senhor e senhora.
A escolha dos grupos de convivência por afinidade, comum na formação da identidade dos jovens, acabou por nos livrar do que mais tarde entenderíamos como sendo um ranço conservador e direitista na formalização da educação quanto na visão política do entorno.
Fomos criados com muito “pulso” (como diz em entrevista à Folha, um dos pais dos agressores, como sendo o que faltou e que reproduzo, ipsis litteris com grifo no que considero enfraquecimento da relação formadora de caráter: “Meu filho e os dos outros também saíram UM POUCO do controle. Faltou pulso.”)
Tendemos a amenizar os atos de quem amamos, muito embora, de minha parte, tenho sido, por vezes, cruel na análise da importância do papel que meu pai ocupou na passagem de valores que teimei por negar em minha vida. Homofobia, direitos humanos, preconceito contra negros e pobres, contra as drogas, mas não contra o álcool e, enfim, pouco respeito ao diferente que nos cerca, foram muito comuns em meu círculo familiar.
Conforme citado em entrevista colocada aqui no blog mês passado, meus valores foram construídos sobrepondo-se a esses valores que me acompanharam, e a meus irmãos, na infância e adolescência.
Colocar o filho como vítima, que está sendo “massacrado” e como “um homenzarrão que vive chorando pelos cantos”, não justifica a escolha pelas companhias e as posteriores ações de grupo, mesmo que o sujeito fique à margem das agressões, este não se opôs, ou sequer tentou intervir contra o que poderia considerar “errado”. O fato de conhecer os “rapazes” nas baladas, vem confirmar o pertencimento ao grupo por afinidades. Que afinidades são estas? As de comportamento de afirmação de gênero, em sua maioria.
Talvez tenha faltado pulso também junto aos pais dos meninos em suas formações. Talvez tenha faltado pulso também no relacionamento entre administradores das escolas e seus alunos. Não o pulso da repressão, mas o da correta orientação em relação à diversidade e do respeito ao outro e às instituições.
A aventura de roubar num supermercado pode nos mostrar como entendemos as pequenas infrações que podem gerar as grandes infrações. Nos anos 90, meu filho, então com 12 anos, participou com um grupo de uma farra dentro do Carrefour, quando um dos garotos “pegou” um yogurte e saiu sem pagar: roubo. Foram pegos pelo segurança na saída. Meu filho chegou em casa tenso e na conversa veio a nos falar do ocorrido (alegando que não participara diretamente no roubo, mas que “apenas” estava junto com a turma). No dia seguinte o levamos ao supermercado e conversamos com o inspetor de segurança que ralhou com ele e conosco. Ao final nos disse: “em 10 anos de trabalho e de muitos acontecimentos como este, é a primeira vez que pais voltam com os filhos para esclarecimento, vocês estão de parabéns!”
Não, não é um elogio, mas a constatação de como os pais não valorizam as ações dos filhos fora de casa, de como estas ações são menosprezadas enquanto valores formadores do caráter dos mesmos.
Em Araçatuba, interior de SP, um grupo de meninas e meninos de uma escola pública assediou, aterrorizando, uma garota negra da sala de aula. Durante 3 meses ela pagou para não ser agredida, gastou cerca de 800 reais, roubando da mãe o dinheiro durante esse tempo. Nesta semana, a mãe, angustiada com o sofrimento solitário da filha conseguiu que esta falasse o que ocorria. Juntou os bilhetes ameaçadores e foi na escola tirar satisfação. Para a reportagem do SBT Brasil, o diretor da escola não encarou a câmera, andando de um lado para o outro, aturdido (como nossos homens públicos), negou que soubesse do caso e mandou que os jornalistas procurassem o MEC através do 0800. Qual o resultado dessa formação de quadrilha, preconceito e extorsão? Uma breve e discreta advertência verbal: abismo!
De onde vêm as ideias dos “facilitadores” da vida? Vêm também da indústria cultural, do apelo do consumo. Jovem militar do GATE paulistano sequestra e mata jornalista, porquê? Para ter mais dinheiro para consumir Tvs de Led, carros importados e baladas bem regadas.
Pode parecer discrepante a associação destes fatos, mas não é. É uma questão de mentalidades. Estamos sendo co-autores das mentalidades dominantes na sociedade que valorizam o ter em detrimento do ser.
Há um esgarçamento das relações de direito que moldam as atitudes do homem na comunidade. E a responsabilidade sobre isso, volto aqui a afirmar, recai sobre a transformação (para pior) do sistema educacional que se diz melhor por ser numérico (grandes quantidades), em detrimento da qualidade (de aprofundamento). Uma boa educação se reproduzirá em melhor discernimento sobre o convívio em sociedade. Mas temos algumas gerações perdidas na interpretação desse conceito, pois filhos e pais são frutos destas modificações no sistema, que resulta no que temos visto cotidianamente e que podemos chamar de um grande “mal estar na civilização”, devido, justamente, à questão do espetáculo, da cena e do drama.
Posso dizer que é uma péssima peça, gostaria de me levantar da poltrona e sair no meio!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Detalhes!

Schopenhauer em sua construção do mundo como representação coloca o Pralaya budista (o descanso do criador) como não ser. Mas, como não existe o tempo, que é percepção fenomênica do humano material, não existe não ser e, muito menos, ser: apenas um eterno vir a ser, pois que a percepção de ser se torna memória e, portanto, para nós, passado, como tudo o que nos rodeia a partir das referências materiais. Basta que olhemos para as estrelas! Entretanto nos Upanichades lemos “[...] Sou todas estas criaturas em conjunto, e fora de mim não há nenhum outro ser [...]”, pois que não há fora no sentido de exterioridade, estamos imersos na manifestação (o Deus das religiões).
O filósofo está se referindo à vontade objetiva na percepção do mundo e aplica o conceito de Maya (ilusão) sobre tudo o que é perecível. Como o mundo em que vivemos é o da experiência, este é transitório e portanto, apesar de real para nós que vivemos neste plano, passageiro, porém, jamais uma ilusão no sentido de delírio fora de uma realidade.
Os Upanichades afirmam a realidade deste plano material como sendo a sombra da verdadeira manifestação (que se dá no invisível – plano da vida com outra frequência vibratória e que nós, comuns mortais não o percebemos e assim, o chamamos de invisível). É de onde Platão retirou a ideia da caverna. Só que no texto sânscrito, menciona-se “tela branca” onde é possível ver as projeções das manifestações, que para os espíritas seria a verdadeira vida, no astral. A afirmação bíblica “ assim como é encima, é embaixo” (assim no céu como na terra), tenta nos passar essa ideia, apesar de forma muito velada. A noção de que formamos representações sobre todas as coisas a partir do conhecimento de si mesmo, tenta mostrar como generalizamos ideias conceituais na tentativa de classificar o entendimento do mundo de maneira organizada, o que nos limita a compreensão de coisas que não se manifestam aos nossos olhos. A racionalização nos impede de sentir o mundo. A intuição seria a única possibilidade de compreender que não somos separados da natureza (mundo, ou universo). Isto é budismo, que é verdadeiramente holista, como o RigVeda, além de ser poesia. Cito novamente o filme “Contato” (com a Jodie Foster da década de '90). “_Vocês deveriam ter mandado um poeta” ela fala ao tentar descrever sua experiência através das galaxias. A razão restringe demais o que se vê e o que se sente, pois conceitua a partir de nossa experiência fenomênica fazendo descrer as experiências interiores. Poderíamos dizer: assim como é dentro é fora, e, assim, o universo se abriria para nossa compreensão, a própria noção de eternidade (o agoramente dos gregos) e uma verdadeira experiência numismática se nos revelaria.
Como colocar estas experiências “interiores” em palavras que, para que tenham sentido, necessitam de um aparato simbólico que as organize sensitivamente? Por isso a arte se faz necessária juntar à ciência para que expandíssemos nossas noções limitadas por educação condicionada à época. Ou como diz Lévi-Strauss, acrescentar mais pensamento metafórico ao metonímico. Temos tecnologia de última geração e mentalidade de penúltima (geração). A poesia pode nos libertar dos dogmas massificadores e enclausuradores que nos impedem de avançar na construção intuitiva de nossas representações sobre a vida, e de olharmos o outro, como a nós mesmos.
                                                 Claude Lévi-Strauss em sua biblioteca

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Mentiras Deslavadas

Realmente é o fim da goiabada!
Tenho visto os jornais diariamente e encontrei algumas notícias que demonstram a acomodação de nosso caráter em uma nova cultura, a meu ver, totalmente esgarçada. Vamos lá!
1- A empresa do marido da moça (Foster) da petrobrás, antes da posse dela na diretoria, teve apenas uma prestação de serviço; após a posse da moça, teve perto de 45 prestações de serviço. A empresa (petrobras) e os advogados do marido NEGAM que haja irregularidades, ou influência de poder!
2- Após passeata gay no Rio, militares surram e tentam matar a tiro um participante. Dizem pro rapaz que se pudessem matavam-no com as próprias mãos. Os militares NEGAM que tenha havido disparo de arma de fogo!
3- Em SP, um grupo de jovens caminha pela paulista surrando 4 pessoas em locais diferentes. À polícia, NEGAM; o advogado dos rapazes também NEGA o ocorrido, dizendo que houve apenas confusão e a mãe de um deles diz que são apenas crianças!!! Mas eles têm entre 16 e 19 anos!!!
Me lembra dos “meninos” que em Brasília mataram um índio na rua e disseram a polícia que “achavam” que era um mendigo!
4- Um tempo atrás, garotos agrediram um jovem que saia de uma casa noturna e após o derrubarem no chão, pulavam com os pés sobre sua cabeça no intuito de estourarem o crânio. À polícia, os advogados de defesa NEGARAM que estavam tentando matá-lo!
5- Na Unesp, "crianças" se divertiam à custa de pessoas que, de alguma maneira, eram diferentes deles, montando nas costas das pessoas (mulheres) gordas, gritando e agitando as mãos como se fosse um rodeio. Á justiça, NEGARAM, que estavam praticando qualquer tipo de violência. Disseram que estavam apenas se divertindo!
É isso aí, negar, negar e negar os fatos pra poder transformá-los em desdita realidade. Um costume que se tornou geral. Ninguém assume responsabilidades sobre nada.
É o fracasso social, resultado do “novo” cuidado na educação dos filhos a partir da incorporação dos valores dos adultos públicos. Lembra uma declaração do Cristovão Buarque na câmara dos deputados em Brasília sobre a mentira que se torna cotidiano e que influencia a juventude num costume nocivo. Parece que ele estava certo.

Criminalizar a Homofobia, o Preconceito e a Violência responsabilizando o Estado e a Família.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

HommoDemens

                                                  Deus, do ponto de vista de MichelAngelo

Começo reescrevendo um diálogo que consta no filme “Contato”, da década de 90, com Jodie Foster:

“_ Você acredita em Deus?
 _ Não acredito em algo que não se possa provar!
 _ Você amava seu pai?
 _ Nossa … e como!
 _ Então prove.”

Bem, é um diálogo entre um filósofo e uma cientista, mas vou estendê-lo para nosso cotidiano.
Não conseguimos provar se amamos alguém, ou o quanto amamos, nem mesmo como amamos.
Tomamos consciência do amor de outros sobre nós, como por exemplo, o amor de nossos pais, somente quando temos nossos filhos. Aí entendemos o quanto fomos amados e o que significa o que chamamos de sentimento do amor, que é o amor em si.
Para provarmos que amamos nossos filhos, acabamos por tentar provar este amor através da materialização em objetos de consumo, ou pela permissividade exagerada. Tentamos provar o amor materializando-o em objetos ridículos, do ponto de vista filosófico. Mas, estamos apenas agindo como cientistas da vida.
Já sobre a existência de Deus, muitos, mas muitos mesmo, de nós, acabamos por confessar que acreditamos Nele. Porém, ao nos perguntar, quem ou o que é Ele, tornamos Sua representação material, através de uma aproximação, em persona, que caiba em nosso ralo imaginário e que não passa de fantasia, ou de uma simples representação. Deus é improvável! Assim como o amor. Mas que existe, existe, pois a um deles ao menos somos capazes de confirmar experiência prática. Principalmente nós que temos filhos.
Já quando, na rua, o semáforo fecha no vermelho, também fechamos as janelas do automóvel para evitar o assalto, ou a violência.
Não nos atemos ante a possibilidade de que, a pessoa que está do lado de fora, teve, no mínimo, uma grande ausência em sua formação. A ausência do pai, ou da mãe, ou da avó e de seus amores. Uma ausência que tem por fundamento a plasticização do ser e sua formação social. Ausências que desconectam os sentidos que nos inserem, que nos dão lugares no mundo. Mas, eu também fecho o vidro do carro!
Porém estou tentando pensar sobre questões básicas que ajudam na formação de um ser humano pleno. Além do núcleo familiar e de suas histórias, que nos vão dar apoio para que possamos lidar com frustrações e dificuldades, a escola é o ambiente do confronto com o diferente e das possibilidades de superação e de entendimento de relações, representações e disciplinas que nos tornarão HommoSapiens.
Tenho que parafrasear Morin ao descrever HommoSapiens como aquele ser dotado de razão e sabedoria, mas que traz em si afetividade extrema, convulsiva, com paixões, crueldades, cóleras, ciúmes, inveja, arrogância, gritos, mudanças radicais de humor, que carregam consigo uma fonte permanente de delírios em sacrifícios sanguinolentos pelo poder. Um ser humano que é insuficientemente dotado de razão, e que, quando sua plástica social falha é dotado da desrazão, que o domina.
Vivemos num mundo de aparências, essa é a verdade. Apenas a espuma das realidades toca em nossos cotidianos, para nos dar sentido. Se nos sentimos rodeados por HommoDemens, temos que nos perguntar porque continuamos a exercer a falha que os formam. Pelé em seu milésimo gol, ofereceu-o às crianças destituídas de esperança. De lá pra cá nada mudou, pois continuamos a fechar as janelas de nossos automóveis, embora professemos acreditar em Deus e no exercício restrito do amor, desde que não nos contradigam.
Fiquei muito decepcionado com o fato de a nova presidente declarar que a questão da educação no Brasil estava boa e resolvida. Tenho visto em aulas ministradas em faculdades privadas, uma GRANDE deficiência no entendimento de textos, no respeito à hierarquia e na proposição de valores. Cito um “causo” ocorrido em faculdade de Londrina/PR: um grupo de alunos (cerca de 30) se aglomeram na coordenação de curso para pedir o afastamento definitivo do professor de sociologia. O motivo: o professor pediu a leitura de um livro; de todo o livro; completo; do começo, meio e fim, para o bimestre. O professor foi chamado à coordenação e ouviu o seguinte: “... mas professor, o senhor deu um livro inteiro pros alunos lerem?”
Pois é, já formamos a intelligentsia do país que vai comandar o mercado e permaneceremos no erro, não por falta de amor, mas por excesso de provas.

    
  Deus, do ponto de vista Teosófico.


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Novíssima Consciência

Estava folheando um livro que trago comigo desde 1973: Nova Consciência, jornalismo contracultural – 1970/1972. Seu autor é Luis Carlos Maciel, o qual já foi citado aí embaixo num texto meu. “A morte do liberal”; “As novas tribos”; “A nova família”; “Fascismo no Underground”; “Coisas boas”; “A cultura da bomba”; “O poder em jogo”, são os títulos dos capítulos do livro, terminando com “O fracasso da contracultura”. Como passei minha adolescência numa cidade do interior paulista, o livro supria o anseio por novidades e mudanças que não encontrava no caminho da escola, ou do clube e, mesmo, entre os amigos. A revista “Geração Pop” surgiu na trilha poeirenta dessa senda com grandes apelos comerciais, transformando o que era especial em nossas mentes, numa produção industrial espraiada.
Esses títulos ainda são atuais. Mas, quem são os sobreviventes do underground entre nós? Quem são os outsiders de nossa sociedade? Muito ao contrário do que ocorria naqueles anos, nossa juventude, ou ao menos parte dela, não procura se espelhar nesse segmento, porque sua existência é extremamente marginal aos apelos que nos chegam pelas diversas mídias.
Certo dia deste ano, caminhava em direção à praça, no quarteirão ao lado de casa, quando presenciei a seguinte cena: um mendigo quase se arrastava com seus sapatos grossos, inchados e desfeitos, a pele suja e marrom, cabelos desgrenhados com um saquinho de supermercado onde deveriam estar seus bens. Em frente de seu caminho, numa casa amarelinha, um rapaz ensaboava sua perua Pálio Weekend de cor negra, brilhante, cheia das coisas, ao som de um potente sertanejo universitário. O mendigo parou e deve ter pedido alguma coisa, não cheguei a ouvi-lo, mas ouvi a resposta raivosamente gritada: “_ NÃO, NÃO TENHO NADA PRA DAR!”
Assim, o farrapo humano seguiu seu caminho, arrastando os pés e olhando para o chão.
Fiquei pensando para além do automóvel do rapaz, em sua geladeira cheia de coisas paradas, à espera de alguém utilizá-las, na TV Combo da Net, no DVD, nas caixas de som ao lado do sofá de courino, na cama arrumada com lençóis limpos e travesseiros, no banheiro com sabonete Phebo e toalhas macias, nos quadros de paisagens nas paredes, na despensa cheia de produtos do supermercado, na ração do cachorro, no telefone celular de modelo atualizado, no computador com internet, no guarda-roupas lotado, com roupas que não viam o sol há pelo menos 2 anos, sem falar nos sapatos de bico fino, nos pares de tênis e meias brancas; no assoalho brilhante, no curso da faculdade privada e nas conversas nos bares a noite, regadas a cerveja e petiscos, na companhia de garotas sertanejas universitárias. “_ NÃO, NÃO TENHO NADA PRA DAR!”
Neste segundo turno, confesso, votei em branco. Não engulo o fisiologismo, o nepotismo e o simonismo que foi revelado numa administração petista. Mas, torço para que o governo dê certo. Para que a promessa feita de acabar com a miséria nesse país seja cumprida. Colaborarei como for possível para que isso aconteça. Gostaria que a oposição não fosse uma oposição idiota, que luta pelo fracasso, mas que se oponha às falcatruas que possivelmente venham a ocorrer, porque gente de todo tipo está envolvida nesse mister, de ambos os lados. Gostaria de ver uma manchete nos jornais do futuro: “O sucesso de nossa cultura”, mas não aquela cultura divulgada como típica de nossa gente, exemplo ralo de brasilidade, mas uma nova cultura, arraigada em nossa alma, de respeito e disponibilidade aos diferentes: uma homenagem a la Darcy Ribeiro, de um tropicalismo humanista moreno e amoroso que nos completará a dignidade.

sábado, 30 de outubro de 2010

Símbolos, Símbolos!

Há um trecho de um poema de Fernando Pessoa que gosto muito:

Símbolos,
Símbolos,
Tudo são símbolos.
Serás tu
Um símbolo também?

Pois creio, estar ele (Pessoa) um tanto correto.
Dias atrás ao rezar para Nossa Senhora (sim, eu rezo cotidianamente!), pedi luz não só para mim, mas também para meus amigos de ambos os lados. E me aconteceu um estranhamento que me leva a pensar sobre esta questão do simbólico. Ao tentar amparar a queda de minha motocicleta (266Kg.), devido a uma escorregadela na oficina em que eu a levara para regulagem das válvulas, feri minha mão esquerda! Fiquei a pensar se isto estaria implicado no abandono de meu mal. Sinal de que eu poderia estar me tornando uma Pessoa melhor e pagando o custo por isso.
Ainda não resolvi sobre a possibilidade do ocorrido ser real a partir dos acontecimentos e de suas ligações com o simbólico.
Penso que, para que haja entendimento de uma comunicação é necessário que dominemos com amplitude o universo do simbólico que paira sobre nós, que o transformemos em palavras, em comunicação inteligível. Porém, para que isso ocorra, também o receptor há que dominar este universo e compreendê-lo. Ocorre que como a ausência da literatura e da informação escrita entre nossa juventude é exacerbada, está havendo uma deficiência no sentido da apreensão simbólica de nossas realidades. Está havendo uma transformação cultural drástica, onde a esperança de modificações profundas na sociedade ficará restrita à beira da praia, ou seja, estamos nadando, atualmente, em água rasa!
Como também nossa geração perdeu o antigo costume da oralidade, do contar histórias, a novíssima geração de humanos que aí está, não possui interesse ao acesso desse universo. Bem, diriam alguns, mas dominam a tecnologia! Ora, pois é exatamente isso: seremos técnicos em tudo! Há que se repensar a educação futura com uma base mais filosófica para que não percamos nossa humanidade, pois as humanidades e suas disciplinas, estão sendo as primeiras e grandes vítimas. Um amigo me dizia recentemente que, para ser um excelente profissional, em qualquer área, o diferencial que assim o tornaria era a inserção de: literatura, filosofia e história em sua vida.
Talvez o mal não nos abandone e não haja esperanças de melhores relacionamentos humanos, pois Pandora, ao abrir a caixa, ao contrário do mito, não deixou nada dentro dela.

Pandora, a mulher que, segundo a mitologia, fodeu com a humanidade.

Pandora Cassini, a pedra.

domingo, 24 de outubro de 2010

A Publicidade é Mulher!



A arte desaliena o mundo e a publicidade é tida, no senso comum, como “arte publicitária”, por lidar com imagens, com o fazer manual (em sua origem), com o desenho e a colagem, o que sugere a implosão da realidade última com o fato de a publicidade estar sendo encarada como o baluarte da necessidade do sentido e da inserção social para o ser humano.
Devido à publicidade se encontrar amplamente divulgada: o simples nomear das coisas, a criação das palavras, a necessidade constante que temos por novas imagens e conexões, acabamos por nos aconchegar em seu colo como realidade última de nossas próprias representações. Transformamos a longa trajetória do imaginário social, que vai transitar em imaginário cultural, como um novo paradigma, não somente estético, de rápidas paradas e partidas que não se fixam no coletivo: metrô suburbano, pois trafega em nosso subconsciente velozmente e com múltiplas estações. Faz a troca rapidamente: periferia/centro/periferia.
Sustentamos nosso cotidiano em imagens que nos dizem o que fazer, ilustradas a partir de um imaginário composto não apenas pelas ideias vendedoras do produtor de publicidade, ou do empresário que quer vender o produto/serviço, mas a partir de imagens com base em uma similaridade com fatos reais acontecidos a pessoas próximas e, muitos desses fatos, retirados das realidades pelas pesquisas de campo. Os anúncios são indicativos de acontecimentos socioculturais! A mulher, anteriormente, criada para o casamento, tendia a ficar sozinha em casa com os filhos e a se virar para a manutenção do lar, tornando-se agente de um cenário demarcado historicamente. Essa saída, da mulher, para a ação se dá com base no mercado de bens de consumo, onde ela é tomada como eixo primordial: cliente-representante-ícone-vendedor-mediador-definidor de compra.
A indústria, a partir dos anos 50, “re-descobriu” o mercado, ativando seus desígnios em termos de “novidades” tecnológicas para quem tinha tempo e dinheiro para usufruí-los e aprender a lidar com eles (com a nova tecnologia e com os novos códigos da vida em comum).
A imagem da mulher na publicidade de antigamente, como sendo “do lar”, adquiriu aceitação bastante positiva no mercado consumidor pelo fato de ter sido resguardada durante tanto tempo como valor doméstico, sendo-lhe agregado valor estético e ético. A mulher como símbolo portador de honra familiar calcado em antepassados. A mitologia indica a origem latina do que se denomina “Lares”: “[...] deuses da família, deificados dos mortais, eram as almas dos antepassados que velavam por seus descendentes”. A mulher, por ser geradora, dar passagem a gerações e permitir, assim, o caminho dos antepassados através do tempo no espaço doméstico ficou marcada, no senso comum, como sendo “do lar”. Uma representação retirada, de fato, de uma cena do drama vivido pelas mulheres, mas que ilustra sua utilização como imagem pela publicidade sendo “re-colocada” através da mídia, via anúncios publicitários e, ao mesmo tempo, sendo convidada, contraditoriamente à época de sua inserção na mídia, a se apresentar em atividades e atitudes extra-lares, elevando-se do sexo para a cabeça.
Close-up em Cinemascope: panorama expansivo de um novo modo ativo de viver e do “dito” pensar grande no mercado; abrir perspectivas; mais negócios; mais gente no consumo; assim, temos o público feminino como sendo maior do que o público masculino, tanto no Brasil, quanto no mundo, o que indica maior poder de consumo; maior movimento de caixa e, portanto, giro financeiro, a partir de um segmento antes menosprezado. Uma educação bastante pedagógica que os anúncios executam e, supostamente, predestinando maior qualidade de vida aos consumidores, pretensamento os inserindo como cidadãos.
Paradoxalmente a mulher é mantida presa ao ambiente doméstico no imaginário masculino, porém, como consumidora de produtos e de novas tecnologias na sociedade. É, ao mesmo tempo, “re-alçada” como ícone de fantasia externo ao lar, para o mercado: ela ilustra a venda de produtos e novas atitudes, o que não se enquadra como representação de fragilidade, mas que ilude quanto ao comportamento real dessas consumidoras junto à moral antiquada e machista que predomina em nossa sociedade. Ufa!!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Regalando-se no Recall

Vi num jornal, na televisão, que o consumidor de automóvel que não realizar o Recall do seu carro terá marcado no documento o fato. Em entrevistas, os motoristas achavam bom, porque assim evitariam comprar carros com problemas. Ué! Os carros já não são comprados com problemas sem o sabermos? O Recall não é um defeito de fábrica? Cadê o documento do carro vendido pela fábrica indicando que já vem com defeito? Há alguma sanção do governo à fábrica que produz automóveis defeituosos e os colocam à venda para um amplo público consumidor? As indústrias produtoras estão recebendo alguma multa sobre o fato?
Então, estão sendo normalizados os defeitos!
É normal comprar carro com problemas futuros! É isso o que o governo está nos dizendo.
Se a responsabilidade é apenas do consumidor, imaginem o que virá a seguir; Recall para os seguintes produtos:
1- Fogões que só assam de um lado;
2- Liquidificadores de 3 velocidades que só vêm com 2;
3- Livros faltando uma página;
4- Geladeiras que estragam alimentos;
5- Cerâmicas com peças desproporcionais;
6- Jornais com apenas metade das notícias;
7- Pedreiros que fazem a parede torta;
8- Encanadores que deixam a pia vazando, ou a descarga;
9- Energia elétrica sem estabilidade, ou bem abaixo da voltagem exigida;
10- Telefones que cobram 50 segundos o minuto;
11- Seres humanos nascendo com metade do cérebro. Ôpa!, estes não precisam de Recall, pois são os consumidores ideais.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Devorador dos Devorados

Parafraseando Luiz Carlos Maciel:
(sei que essa geração sequer sabe quem é esse cara, portanto, teclem no google!)

Devorada pelo tempo, nossa cidade natal aparentemente perdura no espaço de nossa memória nos iludindo. Chegamos a pensar que a vendo novamente, revisitando-a, nos seria capaz de levar, de algum modo mágico, ao passado. Mas isso é um engano. O passado não está em lugar algum: é uma ilusão, que toma formas variadas e imprevistas. O passado é só o que falamos dele. “Talvez seja este o verdadeiro sentido da necessidade que um homem experimenta em voltar à sua terra natal. Ele vai lá, não para encontrá-la, mas para não a encontrar.” Podemos aprender com isso, afinal, vivemos para aprender com o bem, ou com o mal.
Somos todos “ex-pátrios” e nos iludimos com nosso enraizamento espacial, quando, na verdade, nossa sanidade se encontra no enraizamento das histórias familiares, que vêm nos dar o sentido de existir.

domingo, 17 de outubro de 2010

Em Busca de Uma Sociedade Mais Justa.

Utopia!
Uma sociedade mais justa não existirá nunca. Pois a noção de justeza - qualidade do que é justo, exato, preciso, certo - (diferente de justiça), social não se adequa à mentalidade atual que tem como nexo o mercado, o consumo, como inseridor da pessoa no contexto de cidadania e de sujeito.
Esse nexo pressupõe competitividade, na dualidade, com foco no individuo contra o outro. Uma música que encontramos no CD “Tudo foi feito pelo sol” dos Mutantes (sem Rita Lee), diz assim: “estão dizendo que é pra competir, mas eu só penso em te abraçar, não há nada na vida que me faça parar de amar! Estão dizendo que é pra eu te passar pra trás, mas eu só penso em te ajudar, não há nada na vida que valha eu parar de te amar”, vem mostrar o último bastião do romantismo, de uma juventude que ainda tentava a ideia da harmonia no coletivo. Portanto, a crença na possibilidade de uma sociedade mais justa.
Mas, no budismo, há uma pergunta para o neófito sobre como ele acha que é o mundo: sofrimento, é a resposta. A maneira de transformar-se em uma pessoa melhor e, consequentemente, transformar a sociedade por irradiação das atitudes, se dá pelo sofrimento. Transformar o sofrimento em luz!
Diz-se que só assim podemos calcar em nosso espírito as transformações para melhor em nós mesmos, mas, em uma sociedade sofredora como a nossa e uma sociedade composta de pessoas desinformadas sobre possibilidades de transformação, já que transformar para melhor implica ter coisas materiais para se sentir feliz, o sofrimento é tido como um incômodo que deve ser eliminado.
Assim, perde-se a oportunidade do aprendizado, já que negamos todas situações que nos incomodam e o consumo, nos traz alegrias efêmeras, fugazes, de um círculo vicioso atroz. Não vou repetir-me aqui no blá-blá-blá sobre sociedade de consumo, consumidores cidadãos, etc, etc. Apenas vou fazer notar que por estarmos desinformados sobre como nos transformarmos para melhor e por não termos atenção em nossos sofrimentos cotidianos, estamos perdendo a noção do melhoramento e continuamos caindo nos mesmos problemas que nos levam a novos sofrimentos.
É um círculo vicioso necessário para a manutenção do Status Quo. O filme: “what's so bad about feeling good?”, de 1968 (não me lembro do diretor), expõe este círculo vicioso das más necessidades institucionais – hospícios, hospitais, polícia, políticos – ao nos mostrar um vírus transmitido por um pássaro em uma grande cidade americana que, ao contaminar toda a população, a torna amável. Os casamentos proliferam, os divórcios diminuem, a agressividade se esvai, as pessoas deixam de consumir álcool e drogas e a comunidade se torna pacífica. Há a luta das autoridades na tentativa de evitar que a epidemia se alastre levando a sociedade (comercial) à ruína. Pois há uma dependência entre o funcionamento institucional atual e os horrores a que seus cidadãos são obrigados e acostumados a viver cotidianamente. É uma interdependência, ou seja, uma doença necessária da qual a sociedade vigente necessita de seus piores aspectos para funcionar da maneira que conhecemos.
Me parece, através de um distanciamento antropológico, que isso é real. Não há nada anunciando possibilidades de mudanças estruturais, ou mesmo de reforma das piores situações vigentes na atualidade nacional. A única saída que vejo, é pela via da educação, mas, os governos demitem, ou forçam a se demitir, pessoas empenhadas minimamente na realização destas mudanças/reformas. Cito dois casos: Cristóvão Buarque na educação e Marina Silva no meio-ambiente.
Para não politizar a conversa, digo que como somos anestesiados pela necessidade da massa, e isso implica questões quantitativas em detrimento das qualitativas, jamais observaremos as possibilidades que os atuais sofrimentos a que somos imersos se tornem potências alteradoras de quaisquer situações. Ou, em palavras mais simples, não há saída! Estamos imersos na barbárie!

Aprendendo a Ser Pai.

Este texto é de uma entrevista à revista "Estação" para o dia dos pais em 2007 e que coloco, na íntegra, à tona novamente. 

Profissão: Publicitário.
Pai de quantos filhos: um.
Idade dos filhos: vinte e um.
Nome dos filhos: Pedro.
São do primeiro casamento? Primeiro e único. São 25 anos de casamento, na verdade não nos casamos oficialmente. Vivemos juntos desde 1982, quando nos conhecemos na Unicamp.
Caso seu filho more longe, explica pra mim como é a relação de você com ele: Eu sofri muito quando o Peu saiu de casa, porque sou muito ligado nele e nos meninos todos que convivem em casa. Sempre levei no Karatê, no clube, nos lugares, na escola. Levava e ia buscar também, não importava a hora. Então, o cordão umbilical que foi cortado foi comigo. Ele não liga muito pra casa, somos nós que temos que ligar pra saber como vão as coisas, pra saber se ele tá precisando de algo. Mas ele é sossegado e tem ido muito bem na faculdade.
Como era a sua ideia de ser pai antes e como é agora? Eu nunca imaginei ser pai antes de o Pedro nascer. Não fazia idéia de nada. O primeiro banho que fui dar nele, eu coloquei uma sunga e ia entrar na ducha quando minha sogra falou:”_ Imagine!! O que é isso!! Quer matar o menino?!?”
Marinheiro de primeira viagem total. Depois você vai observando o ser se formando, te olhando e o amor vai se desenvolvendo, começa a aparecer nos sonhos e a compor sua vida.
Quando você descobriu que seria pai pela primeira vez, quais foram as maiores alegrias, o maior desespero, a maior preocupação? Nós já vivíamos juntos há 4 anos e já havíamos experimentado bastante situações da normalidade às mais estranhas que a juventude pode nos possibilitar. Então, a gravidez, parece, foi um sinal de mudança no sentido de nossas vidas e nós vimos isso claramente, mesmo porque já estávamos com 29 e 27 anos de idade. Não vou dizer que houve um sinal de alegria enorme pela gravidez, porque você nunca sabe o que é exatamente isso, o que vai vir, ou o que pode acontecer. Então, esse sintoma de alegria e desespero, que eu não encaro assim tão drasticamente, me parece, caminham juntos , como uma gangorra. Uma hora você está com os pés no chão e o real passa como um filme por você e você é ator nesse filme, outra hora, você vê o diretor dando ordens e não pode fazer nada, porque está só observando fora do espaço cênico. A preocupação grande foi cair dentro do mundo verdadeiro, que era o mundo fora da universidade, o mundo real, dos conflitos e do trabalho. O mundo que eu não vivia e que precisava acessar para começar a ganhar dinheiro e sustentar minha família. Mas era apenas uma preocupação, não um desespero, algo que se resolveu calçando-se os sapatos.
Você acha que conseguiria ser pai sozinho? Olha, eu falo que sou pai de um filho só, mas aí a Leila me lembra que eu ajudei a criar mais 6 garotos(as), filhos de amigos, que cresceram junto com o Peu. Criar no sentido de ajudar a inserir formação de vida e orientação para uma ética existencial, para que pudessem ser seres humanos bacanas, sem preconceitos. Mas não poderia ter sido pai sem a ajuda de minha companheira. E hoje em dia, não, não sei não. Vai depender de como a vida vai te colocar nessa situação, né?
Você se classificaria como que tipo de pai? Justo, brincalhão, que dá limites e que sabe os seus limites em relação aos espaços do filho também.
Para nós conhecermos um pouco de sua personalidade, gostaria de saber como seria um dia dos pais perfeito com a sua família, um lugar, uma situação: Então vamos lá: primeiro que eu não acredito em dias dos pais. Acho bobagem esse negócio de dia dos pais, dia das mães, dos namorados,, das crianças, etc... São datas comerciais, feitas com o intuito de se incentivar e de se objetivar vendas. Ou seja, são datas mercadorias. Eu tenho dias maravilhosos com o que eu chamo de tripé do amor, que é meu filho e minha mulher juntos comigo, deitados na nossa cama de casal, no quarto, com a janela aberta que dá de frente para as Murtas floridas e perfumadas no jardim. As janelas são enormes e ficamos os 3 ali fazendo cafuné, conversando, sem tempo nem necessidades. Ali falamos de tudo, mas é um espaço de intimidade dividida desde sempre e isso é lindo! Esse é um dia qualquer perfeito.
No caso, você é um publicitário, um artista, me conte um pouco do seu trabalho. E das suas atividades fora dele. Como é a relação da sua família com as suas atividades? Seu filho está no mesmo caminho? Sua mulher...: Hum...! Há muito respeito pelo espaço de cada um em casa. Tenho o atelier de pintura e o estúdio de criação em lugares diferentes da casa e quando estou trabalhando num deles, ninguém vai lá. Leila também tem o escritório dela, com a biblioteca, os livros ao lado do meu estúdio. Peu foi criado assim, com a gente sempre enfiado ou nos livros, ou nas tintas e na produção criativa. Mas nunca podei qualquer atitude ou vontade dele se integrar nessas atividades, o fato é que ele observou demais, eu acho, e escolheu um caminho diferente do nosso. Meu trabalho antigamente pedia mais contatos sociais, mais baladas e muitas saídas. Eu passava muito tempo cuidando de relacionamentos e do trabalho e pouco tempo em casa. Aí eu dei um breque nisso tudo, olhei a balança e optei pela qualidade em minha vida e não pela quantidade de trabalho que resultasse em mais dinheiro, que me possibilitasse fazer o que? Minhas duas estrelas estavam em casa e foi ali que eu resolvi ficar. Então terminei o mestrado e optei por dar aulas numa universidade, selecionar algumas consultorias em comunicação publicitária, que é o que tenho feito.
Peu estuda administração na Universidade Federal de Santa Catarina e pretende, se é que não vai mudar, fazer MBA na área de hotelaria.
Para você, pai, qual é a maior dificuldade para educar um filho? Olha, acho que os pais, hoje em dia, pecam pela falta de conversar com seus filhos cotidianamente. Não é chegar pro filho e falar: “_ senta aí e vamos conversar!”. É ser ao mesmo tempo pai e companheiro. Pai não é amigo, é pai mesmo, mas pode ser companheiro e deve falar, com carinho, sem imposição, sem podar o ser que está se formando, deve falar sobre tudo com grande disponibilidade e sem hipocrisia. Eu sei de histórias de pais que tratam seus filhos de uma maneira horrorosa, porque os meninos se descobriram homossexuais. Isso é um absurdo! O que o lance da sexualidade tem a ver com o amor dos pais? Então não havia amor antes? Os filhos nos ensinam a viver!
Diga pra gente, uma frase, um ensinamento, algo que você sempre diz ao seu filho, um conselho… ? Faça e seja feliz!
Como era o seu relacionamento com seu pai, como é hoje com seu filho? Putz, dá-lhe terapia!! Eu considero que não tive pai, porque a presença dele durante o tempo em que viveu, foi de um alcoólatra que chegava em casa sujo, com as roupas rasgadas e manchadas de sangue. Não tenho imagem de carinho dele para comigo, mas tenho muitas lembranças de violência e de gritaria. Eu acho o álcool uma merda. Acho que as campanhas publicitárias de bebidas alcoólicas deveriam ser mais regulamentadas, senão, banidas. O público não tem consciência do mal que o álcool faz, das mortes que causa e da ponte que ele é para outras drogas. De quantas famílias ele destrói. Eu tive problemas com álcool até 1993, quando parei radicalmente com tudo. Parei porque olhei para meu filho e na minha lembrança vi que poderia fazer diferente. Fiz diferente. Mudei a face do espelho, contei tudo para o Pedro, ele sempre soube de tudo, temos uma relação muito transparente em casa. E eu fico em cima quando o negócio é bebida alcoólica. Fico apavorado. Mas a gente se ama e nossa história é outra, graças a Deus.
Você precisou largar alguma atividade na vida de recém-casado ou até mesmo da vida de solteiro para embarcar na paternidade? Nunca. Eu já havia terminado a faculdade, Leila também, ela estava fazendo o mestrado na Unicamp e já havia cumprido os créditos. Eu trabalhava numa agência de publicidade em São Paulo, então, na verdade, minha paternidade começou aos 3 anos do meu filho, quando embarquei mesmo, numa maior proximidade de núcleo familiar, ao sair da agência em que trabalhava e me mudar para Londrina, que era onde eles já estavam morando. Acho que fui um pouco egoísta nessa época, mas foi necessário para que pudéssemos realizar outras coisas materiais.
Para finalizar, o que significa dia dos pais para você? Em termos comerciais e sentimentais: Bom, eu disse que é um “commerce day”, não é mesmo? Nós temos calendário pra tudo, que poderia ser melhor utilizado, no sentido de mercado. Pois temos sempre um dia marcado como sendo comemorativo para qualquer coisa que se queira imaginar. Deputados são os responsáveis por isso, sabia? Dia da avó, da sogra, dia do sapateiro, da manicure, do otorrino, dia do digitador e por aí vai. Isso é reflexo da fragmentação de nosso tempo, da nossa vida cotidiana que deixou de ser elástica. Nunca o relógio esteve tão acertado, no sentido de hora pra tudo. Os intervalos entre os ponteiros se encontram todos ocupados e têm etiquetas com preços e logotipos. Por isso eu acho qualquer dia comemorativo tão vazio de sentido. Porque a comemoração está focada no produto, e não, no institucional. Precisamos fazer um trabalho de “re-posicionamento” estratégico para as datas comemorativas principais, para que tenham mais sentido humano.
Obrigada: OK!

sábado, 16 de outubro de 2010

O Corpo Como Muro.

Muitas são as explicações encontradas para o fato de uma pessoa inscrever na própria pele imagens, nomes e sinais que permanecerão permanentemente em sua companhia. Mesmo tendo que conviver não apenas com essas assinaturas, mas com o olhar do outro sobre si durante seu caminhar pelo mundo e, consequentemente, pelo mercado conservador em que vivemos.
Nossa sociedade atual carrega a contradição entre a normalização do tráfego de imagens corporais que contagia não somente aos jovens e a negação em expô-los à mostra em serviços onde há contato público e àqueles da saúde.
Nossas tatuagens são feitas sob encomenda para ficarem cobertas pelas roupas, são mostradas em pequenos deslizes, flagrantes íntimos, porém ainda nos incomodam e fascinam. Podem nos indicar que somos prisioneiros da marginalidade em voga, menos sombrios em seus motivos pictórios do que nos tempos mais antigos em que surgiu entre os povos mais urbanizados.
Tenho a sensação de que a Tatoo acabou fazendo parte da ampliação de uma vontade estética que culmina nas deformações plásticas sobre o corpo humano em que o jogo do mostra/esconde não se faz mais necessário como afirmação de valores grupais, ou de ritos de passagem.
O que era escondido e mal revelado, se faz bonito.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Um poema Bashô no meu quintal!

Carlos Vinicius Ferreira Sato
que é meu amigo escreveu:

Corredor de Vento

brisa barulhenta
o olhar da alfazema
apenas São Paulo
da minha sacada...


O poeminha (sem pretensão, porque há poetas que sabem florir), abaixo, escrevi para o Peu no aniversário de 20 anos dele, em 2006, sentado debaixo do Ipê que tem no meu quintal.

Depois da chuva
Muita secura.
Galho florido
Muita brandura.
Flores num pau seco.

A arte é uma inutilidade glamourosa!

João do Rio teceu este comentário no começo do século XX. É ácido e visa metralhar artistas de carteirinha, aqueles que se reúnem em associações, etc, etc. Tem gente que fala que isso é frustração. Pode ser, para alguns, mas pode ser falta de saco para outros. Como diz o Evaldir Loyolla: "sabêláeu!"
Muita gente vai ler o nome desse meu amigo, o Evaldir, e não vai saber quem é. Assim, como outro dia, num almoço com amigos, citei o nome do Mario Arrabal e ele caiu no vazio. Olhares insensíveis, ou melhor, desinformados, sobre este excelente gravador brasileiro que atualmente está vivendo em Itacaré, na Bahia. Evaldir optou por viver em Londres há anos, já!
Há muitos outros artistas que sequer beiram o prato do mercado. Ficam girando na pequena imortalidade, ao redor das intimidades. Eu penso que como tudo é relacionamento, quem não tem estomago para esse tipo de atitude/atividade, senta no porto, enchendo a cara e colocando suas lindas angústias no papel, ou na tela, porém sem jogar sobre elas a luz do sol.
Enquanto isso, na Bienal, artistas querem ser diretores de cinema. No saguão podemos encontrar textos explicativos sobre as obras. É isso, temos que ter textos explicando tudo. Pena que as pessoas não saibam ler!
Para isso, cito Fernando Pessoa de cabeça: [...] e há poetas que constroem seus versos tijolo por tijolo [...] que triste é não saber florir.

Acima, gravura de Mario Arrabal/1998 - 39X32cm.